Não gosto de ser o portador de más
notícias, mas como uma sina isto sempre sobra pra mim...
De alguma forma me tornei um
caminhante na montanha mágica e, isto fez com que as notícias sempre passassem
por minhas mãos.
Mas sou um ser humano comum e nem
sempre posso estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, ainda que tente... então
sempre algo escapa à minha razão e ao meu conhecimento. Como por exemplo a
morte de minha amiga Marcia sininho, um ser que eu aprendi a admirar e a amar,
da forma que ela amava a vida dela e a tudo que a cercava.
Marcia era uma mulher batalhadora que
minimizava os sofrimentos como se eles fossem apenas obstáculos na vida e que
ela tivesse que transpô-los sempre sorridente.
Na realidade Marcia gerou quatro
filhos, deles três se tornaram Anjos sendo que Vitor foi um grande guerreiro.
Em sua Curta história de vida, Vitor serve de exemplo pra muita gente que anda
por aí desprezando a vida como se a vida não valesse nada. Vitor deu à vida o
significado de valor e soube lutar para conseguir viver, até o momento em que
Deus o puxou para seu lado.
Há pouco falei com Ziza e, agora,
estou no alto da montanha tentando entender como a vida pode ser tão dinâmica ao
ponto de sempre nos surpreender com a rapidez que tudo se passa.
Tenho em meu peito algumas
preocupações, Marilda que anda às voltas com sua saúde, Marilia Turra que quer
se encontrar diante da vida e precisa ser valorizada como mulher, Jessica,
minha loirinha teimosa e tão querida que tem um coração de papel e que se
amassa com facilidade. Marina Colet, uma mulher obstinada e que tem em sua
frente um objetivo: vencer. Lea Conforti que se vira constantemente em Mãe,
mulher e esposa, tentando sempre ser o Máximo em cada posição. Elaine Filipe
que segura em minhas mãos para encarar o mundo de frente, sem o medo de ser
feliz e, muitas outras pessoas, como Fanny Arce, que insiste em levar para sua
casa o Altar que Iemanjá rejeita em aceitar como oferenda, mas que deve ser
devolvido ao Mar...
Tenho junto ao meu peito milhares de
orações e pedidos de mensagens que muitas vezes me sinto frustrado em não poder
atender, porque tudo isto não depende de mim, por mais que eu me esforce.
Está frio, muito frio aqui na
montanha e, resisto bravamente, com uma blusa de malha porque não esperava
tanto frio de uma vez assim...
- Olá Caminhante...! Vejo que hoje seu
fardo está bastante carregado... você sente este peso em sua vida?
- Não, não sinto o peso... Na verdade
quando subo à esta montanha espero por tudo e sempre sou surpreendido, talvez
por isto que não sinta o peso... mas apareça...
Uma gargalhada ecoa pela floresta, e
no descampado uma mulher lindíssima de vestes longas e transparentes como uma
deusa, abre os braços e corre em minha direção...
- Sininho!!!! É você???? Quem mais você acha que poderia ser?
E a gargalhada continua, me
arrepiando ao sentir aquele longo abraço como se minha vida passasse sempre
por aquele momento...
Não gosto de chorar... não porque tenha
vergonha de um pranto, mas que não sinto o pranto como algo que possa resolver
meus problemas, mas naquele momento me transbordo de emoção e sinto que minhas
lágrimas correm enquanto recebo aquele abraço.
- Não se preocupe... chore, não se
preocupe porque este pranto é preciso porque ambos precisamos dele, você para
entender que meu mundo agora é aqui e eu para entender que a distância entre
nós nunca foi tão pequena.
- Como foi bom encontrar você...
melhor ainda encontrar você como Caminhante nesta montanha mágica...,
- Sabe, Léo, meu querido caminhante,
muitas vezes eu li e ouvi suas estórias,
mas agora estou às vivendo e entendo bem o que você sempre queria dizer...
então tenho a dizer a você que tenho apenas quatro pessoas que gostaria que você
enviasse uma saudação dizendo que estou bem e que em momento algum eu desisti de
viver. Ao contrário, lutei com minha própria
vida para não perder o bebê e não me contive e fui até além da morte para não permitir
que ele se fosse.
- Não estou arrependida, mas agora sei
que não dependia de mim... estou bem e sei que minha jornada é longa, mas sinto
saudades, de minha comadre, de meu marido Marco, de Hugo... ah! Hugo como eu
queria que você entendesse que eu não abandonei você para ir atrás de seus
irmãos... Também gostaria que meu irmão pudesse sentir que é verdade tudo o que
sonhei... O amor que nos uniu enquanto eu vivia agora é mais forte...
Dizendo isto ela se solta daquele
abraço que parecia eterno, dá dois passos para trás, passa uma das mãos pelo meu
rosto e, com o dedo indicador faz um sinal em minha boca como se fosse para que
eu não falasse nada... Uma leve névoa se aproxima e uma voz infantil diz vamos
Nanãe!... vamos... de longe posso ver Vitor e seus dois irmãos. Marcia sorri
escandalosamente e maravilhosamente e diz até breve, diga pra Ziza que agora é
com ela... ela me deve esta... não posso estar lá mas ela deve lutar pelo que
eu lutaria.
Dizendo isto desaparece na neblina e me
resta descer a montanha, secando alguma eventual lágrima que insiste em não
parar.
Por que a vida se torna tão fantásticamente
real quando não conseguimos entender que estamos vivos e dependemos dela pra
ser feliz? Por que apenas diante da morte avaliamos a vida?
Talvez sejam perguntas que nunca
devam ser respondidas, mas eu sempre as faço.
Léo S.Bella
07/07/2012
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