História de um grande
Amor...
Léo S.Bella
21/09/2012
O meu por ela...
Eu me sinto sentado à beira de uma ponte e um rio caudaloso
passa por baixo.
No entanto a correnteza não é de água, mas de letras,
palavras e frases.
Então o que leio parece não ser meu futuro, mas uma visão do
passado que nunca tive.
É difícil explicar nunca ter vivido um passado e revivê-lo.
Mas é assim que são as sensações quando se pretende viver tudo o que a Mente
pode lhe permitir.
A coisa é atemporal. Todo tempo é um único tempo e, desta
forma os sentidos se calam para que a voz interior tome vida e as sensações
sejam parte da realidade.
O mundo virtual é a realidade espelhada pelo futuro
refletido no passado. É uma realidade interior com força intensa e capaz de
modificar o meio ambiente pelos efeitos que produz.
Então, enquanto penso e reflito sobre estas coisas. Tudo a
minha volta se transforma em natureza e meu presente é viver o passado...
Há alguns anos, ou melhor, agora estou sentado dentro de um
cercado cheio de coqueiros e bananeiras onde fiz um galinheiro.
São aproximadamente
167 galinhas. Ou, melhor, com certeza são 167 galinhas.
Eu tenho certeza porque é quase fim do dia e a Val já deu o
toque pra galinhada ser recolhida. Lenta e preguiçosamente as galinhas vão se
juntando cada qual em seu canto.
As que botam procuram seus ninhos, as outras, seus poleiros
e, as mais jovens, procuram outras para se encostarem e se aquecerem durante a
noite.
A Atmosfera é tranquila, levanto e dou uns passos dentro do
galinheiro esticando a coluna, tirando e recolocando o chapéu pra refrescar o
suor da tarde quente, como se quisesse recolocar com estes movimentos idéias
novas dentro de minha cabeça.
Mas não tem jeito estamos vivendo um dos piores anos de
nossas vidas.
Anos difíceis, o início dos anos 2000.
Tivemos talvez tudo para desistir...
Uma grande força nos detém para não abandonar tudo por falta
de dinheiro, casa, comida e um canto para morar. Agora o que nos resta é o
favor de morar nesta casa em construção, enquanto nossos sonhos perdidos e
quebrados tentam serem redescobertos...
Mas é difícil... de propriedade o que nos sobrou foram 4
cachorros e 167 galinhas criadas a
partir de alguns ovos e uma galinha chocadeira que ganhamos.
Meu trabalho, no momento é arte... é escultura em madeira, é fabricação de ornamentos,
broches, brincos e adornos com sobras de madeira que são catadas no lixo de uma
serraria.
Mas isto não é suficiente para pagar a conta de luz, então
para economizar o gás, queimamos o que sobra dos pedaços de madeira para
cozinhar o que conseguimos no quintal.
Mas não comemos as galinhas, elas são nossas companheiras e
a Valdeci as chama de colegas.
As galinhas, ao contrário do que todas as pessoas acreditam,
são seres sensíveis e inteligentes.
Basta conviver com elas e perceber que são trabalhadeiras e
que cuidam de seus filhotes com muito esmero.
Uma galinha é incapaz
de dormir e deixar um de seus pintinhos ao relento. Ela o abraça e os esconde
sob suas asas e ali transfere a eles, calor, amor e segurança.
Talvez o amor que sinta uma galinha seja diferente do Amor
humano apenas pela forma de demonstrar, mas em muitos momentos é muito mais
zelosa do que uma mãe humana.
Certo dia cheguei ao galinheiro e fui verificar os
bebedouros, para recolocar uma água fresca. Olhei em volta e vi todos os
pintinhos caídos no meio do galinheiro tinha uns 50 pintinhos todos caídos de
lado imóveis como se estivessem mortos por algum tipo de choque.
Olhei para o céu tentando entender se era porque o Sol
estava quente, mas logo vi dois gaviões pairando há uns 30 metros de altura
sobre o galinheiro em posição de ataque... Eu fiquei muito irritado com aquilo
e apanhei uma espingarda e dei alguns tiros em direção ao ar, na tentativa de
espantar os gaviões.
Assim que eles foram embora, as galinhas que estavam
escondidas na sobra deram um tipo de canto diferente e todos os pintinhos ao
mesmo tempo se levantaram e correram para suas mães...
A partir daquele dia eu percebi e vi que quando um gavião se
aproximava, a galinha com um tipo de canto diferente ordenava que eles caíssem
onde estavam e que se fingissem de
mortos para serem preservados e não serem mortos pelos gaviões que somente
comem caça viva.
Isto é mais que instinto de preservação. É uma forma de
entender o que seja Deus e sua organização dentro do mundo animal.
Consumíamos seus ovos, mas não as matávamos, porque a idéia
de matá-las doía muito mais do que a fome dentro de nós.
Cada dia que passava mais as galinhas faziam parte de nossas
vidas e assim aprendi bastante observando o trabalho de Valdeci cuidando e
guardando as galinhas, incansavelmente, todas as tardes.
Havia um outro galinheiro, um cercado que era como se fosse
uma maternidade, e onde havia um fogão de lenha e onde a
molecada (pintinhos) se agrupavam com
suas mães todas as noites para dormir.
Valdeci conhecia cada
galinha e cada filhote dela.
E, se preocupava em recolher as que não queriam ir para o
abrigo colocando em sua camisetona um bando de pintinho na tentativa de levar a
mãe pra dentro, Como as mães não abandonam seus filhos, a galinha seguia Val
reclamando até o lugar de passar a noite.
Cada uma tinha seu ninho.
Então a Val colocava os pintinhos no ninho e a galinha subia
indo abrigá-los e daí parava a “piação”... eles paravam de reclamar e dormiam
tranquilamente agasalhado pelas Mães.
Sempre havim mais de 15 galinhas chocando, mas todas as
noites a Val levantava galinha por galinha contava os pintinhos e muitas vezes trocava
os filhotes que estavam perdidos com outras mães.
As galinhas tratam todos os pintinhos como se fossem seus,
elas não distingue nem discrimina filhote algum...
Existiam até aquelas galinhas mais compulsivas que roubavam os filhotes
alheios, mas a Val sempre os destrocava.
A coisa era perfeita e dentro da Val, a grande preocupação
era com a vida e com a sequência da vida, por exemplo cada galinha que botava,
seu ovo era marcado e quando por ocasião de chocar estes ovos retornariam para
a mesma galinha que os botou, Daí sairiam com certeza irmãos e filhos da mesma
mãe.
Isto pode parecer ridículo, mas é a forma de amar de uma
pessoa que queria preservar a família, que ama o que faz e vive o que Ama.
Nós não tivemos filhos, mas tivemos como nossos, todos os
seres vivos que pudemos manter e proporcionar vida.
Quando as letras passam por baixo da ponte eu as leio, com
saudades e principalmente entendo como pude conquistar meus passos e a pouca sabedoria
que tenho hoje.
Grande parte de minha sabedoria, foi em função do Amor de
uma mulher... Valdeci.
Muita gente pode não entender porque sempre eu tento falar
sobre ela e nosso amor, mas eu sei porque falo e o que sinto por ela.
Então me importo muito com ela e gostaria que as pessoas
pudessem aprender com os exemplos que somos capazes de dar, porque o que
pregamos e falamos e dizemos é o que vivemos.
E, as frases continuam passando por baixo da ponte e, já não
sei dizer qual tempo vivo, mas continuo lendo e as colocando em ordem para que
possam ser lidas e entendidas.
Não vivi de amor somente, tivemos momentos onde a força do
espírito de cada um de nós foi determinante para que pudéssemos seguir avante e
crescer.
Talvez por isto que nossos abraços sempre nos fortaleceram
porque contávamos apenas um com o outro.
Cumplicidade... a essência que mantém a chama da vida...
Estar junto no limiar da pobreza, na miséria e com certeza
até o momento de poder sustentar o capricho de poder escolher a marca de um
sabonete, uma pasta de dentes ou um desodorante é um orgulho que trazemos em
nossos peitos.
Neste momento, não me emociono pelas dificuldades que vivi,
mas sim pela forma que conseguimos nos unir para vencê-las.
A união é a Mãe de todas as forças.
Por isto não entendo como duas pessoas podem viver dentro do
mesmo teto e serem tão ausentes e distantes umas das outras.
A desunião é a mãe de todas as desgraças.
A desgraça não está esperando você passar pela estrada para
pegá-lo, pois ela caminha com você dentro das desuniões que você carrega.
Tente então entender com quem você anda, como caminha para
entender o que te acompanha.
Enquanto as letras palavras e frases continuarem passando
por baixo de minha ponte, estarei escrevendo para tentar demonstrar com
palavras o que vivi... pois este texto não termina aqui, e o prefácio de meu
livro que se chamará “Todas as águas que rolaram por baixo de minha ponte”...
Léo S.Bella
21/09/2012
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