Eu caminhava pela rua e vi que as pessoas passavam por mim como se eu não existisse.
Caminhavam a passos largos e apressados, olhando fixamente em alguma direção, com um olhar ausente e distante, cada qual mirava seu problema...
Mentes ocupadas por problemas, estavam vazias... sem soluções...
Uma Mente vazia trabalha muito mais do que pode parecer, porque ao final do dia a caminhada foi redundante, sem produtividade dando a impressão que o dia foi muito comprido... comprido demais...
Quando se vê a multidão, se vê a massa por inteiro assim como se vê uma árvore frutífera tudo é visto de uma forma diferente.
São vistos todos os frutos ao mesmo tempo, mas na individualidade, naquele momento, existem frutos verdes, maduros e os que se encontram no caminho de apodrecerem.
Mas meus olhos insistiram em acompanhar em especial uma mulher que se destoava completamente da multidão...
Caminhava sem pressa, cabisbaixa, como se tivesse os pensamentos todos num único instante e tentasse encontrar apenas um para se concentrar e decidir...
Decidir = dar um valor.
Durante muito tempo eu pensei que decidir fosse fazer uma escolha.
Nunca havia pensado que decidir estivesse muito mais próximo de valorizar.
Afinal nesta vida tudo tem importância e a importância se mede pelo valor que se consegue atribuir.
Durante muito tempo eu pensei que decidir fosse fazer uma escolha.
Nunca havia pensado que decidir estivesse muito mais próximo de valorizar.
Afinal nesta vida tudo tem importância e a importância se mede pelo valor que se consegue atribuir.
A mulher beirando os 50 anos, muito bonita e cheia de vida, tinha um semblante indefinido. A cada segundo parecia ser capaz de esboçar uma reação.
Isto foi o que mais me chamou a atenção.
Num momento, numa fração de segundo, a mulher pareceu definir a reação finalmente e levou ambas as mãos ao ventre, como se estivesse amparando um futuro bebê, mas em seguida elevou as mãos aos céus, como se estivesse entregando seu filho à vontade de Deus.
A mulher, entretanto, permanecia com semblante indefinido... como se estivesse vivendo dentro de si um imenso vazio.
Vazio não é o lugar sem nada, mas é um espaço onde falta algo ou alguém.
Nossos olhares se cruzam e ela vem em minha direção e coloca a mão direita suavemente em meu peito e diz calmamente...
- Moço... sabe onde fica a agência funerária para que eu possa encomendar uma urna para minha filha?
O mundo naquele momento parecia ter parado.
O mundo naquele momento parecia ter parado.
Olhei fixamente a mulher e não pude contar uma lágrima. Ela abriu os braços e me abraçou e retrucou.
- Não precisa ficar assim. Ela já se foi... está feliz agora.
Então eu respondi:
Então eu respondi:
- Basta seguir em frente a agência fica sob este viaduto. E as flores na floricultura mais pra frente.
- Obrigada querido, as flores eu tenho dentro de mim.
Me deu um beijo e se afastou caminhando lentamente, da mesma forma que se aproximara.
Me deu um beijo e se afastou caminhando lentamente, da mesma forma que se aproximara.
A cidade grande também tem seus mistérios.
É preciso prestar atenção e viver o clima para poder entendê-los.
Mas ainda prefiro minha montanha, em meu canto encantado.
Léo S.Bella
Mas ainda prefiro minha montanha, em meu canto encantado.
Léo S.Bella
31/08/2011
2 comentários:
Quem o que quer ser ou quem o que quer ter? Quem que quer ver, quem que quer perceber ou quem que quer se esconder? Quem que quer sentir ou quem que quer não sentir? Quem, na cidade grande é o anonimato de tantos Severinos e Severinas, Joãos e Marinas, Marias...
O que é o tudo no nada e o nada no tudo? Apenas preenchimentos de escolhas vazias, sem valor, sem sentido?
Mente condicionada, induzida a focar nos problemas? Suspiro pessimista quando se pensa na solução?
Quem conduz a mente? Quem traduz a mente?
Representação simbólica que concretiza à mente? Emoções somatiza o corpo ou o ambiente somatiza o corpo e por sua vez condena mente em sentimentos ardilosos e ou amoroso?
Árvores frutíferas, folhas ao chão.... Flores guardadas no peito... Flores, flores que interpolam, internalizam, simbolizam toda a delicadeza do amor materno incondicional. Em sua fé media o agradecimento de ter sido mãe... No ventre busca energia para ressignificar suas flores que por um momento se despedaçaram, força mnêmicas, intuitivas, valores transformam toda a dor, toda a perda no conforto de saber que a vida continua semeando, pois a vida é cíclica.
No valor materno o que vale o que sentiu, o que viveu na relação existencial mãe-filha. A vida é atemporal, é eterna nos sentidos, na memória de quem ainda permanece na existência. Flores cultivadas dentro do peito, um jeito jeitoso, sublime e amoroso de ser mãe... Mãe sem culpa, mãe sem condenação, mãe sem punição, mãe sem cobrança, mãe sem questionamento... Simplesmente compreensão, entendimento sobre o que é morrer....
Muitas vezes levamos anos para ter coragem de olhar todos os acontecimentos bem de frente, estranha colcha de retalhos...
Sabe meu querido amigo caminhante a vida em muitos momentos é misteriosa, em certo momento da vida é preciso acomodar no peito a dor da perda, a recostrução intima é um trabalho lento e delicado, seja qual for a devastação, guardemos a flores no peito para que numa primavera proxima ela floresça, trazendo paz e serenidade...
abraços
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