Eu esperava que além daquele dia não houvessem surpresas, mas quem sou eu para não querê-las ... sou apenas um caminhante que segue a trilha norte da Montanha Mágica em direção a gruta de pedra.
Faz muito tempo que não subo até o alto. Não sei dizer porque... talvez porque seja o lugar onde sempre eu me encontrava com alguns Anjos e outras divindades. Recordo-me ainda da vez que encontrei Maria e, ela se despediu com um olhar doce e um beijo em minha face, como se fosse uma Mãe dizendo, filho eu protejo você...
Palavras fortes para quem não pode contar mais com as palavras da Mãe ao lado, em todos os momentos. Mães tem a capacidade de traduzir todas as dificuldades em coisas simples e possíveis.
Nesta vida, nesta minha caminhada pela Montanha Mágica, tive muitos momentos difíceis, mas percebi com o decorrer co tempo que eram momentos simples e que eu os poderia vencer, pois se assim não fosse, eles não pertenceriam à minha vida.
Olá Caminhante! – repentinamente uma gritaria invade a montanha...Parece eu todos os seus moradores querem gritar ao mesmo tempo.
Paro, levanto os braços e sem que perceba sou abraçado por todos... É uma sensação muito louca, num único momento sentir milhares de abraços.
Parece que faço parte desta montanha na mesma razão que ela faz parte de mim...
Em muitos momentos, eu desisti de falar de minha Montanha porque as pessoas nunca poderão compreender a amplitude que existe em sua essência. Ela é mais que uma forma lúdica de encarar a vida, é mais que eufemismo ou uma forma que encontrei pra descrever a vida dos que partiram através da morte e estão presentes entre seus pares, seus pais e parentes...
Outros credos também se firmam em minha montanha mágica, porque ela não é propriedade de um deus apenas, mas de todos os deuses de todas as pessoas indistintamente, porque na essência somos todos iguais.
Enquanto me perdi em pensamentos a gritaria continua, e me sinto abençoado e querido por todos e, sigo em direção à gruta, logo seguram minhas mãos, de meu lado direito esta Maria Luiza de Valdilene.
-Tudo bem tio?- escondendo-se meigamente atrás de um sorriso.
-Tudo bem Malu, sua mãe recomendou que eu lhe desse um beijo e dissesse que esta tudo bem, mas que a saudade que ela sente não quer ir embora, que tem dias que ela esta bem, mas tem outros dias que ela esta mal.
-Eu sei tio... mas ela vai ficar bem porque ela é gente né... talvez um dia logo ela possa encontrar uma outra filhinha pra ela cuidar, eu iria gostar de ter uma irmãzinha ou irmãozinho.
-É Malu, não é fácil isto, mas vou dizer pra ela... aliás, nem sei como vou dizer isto a ela...
-Sabe, tio, diga falando, fala que ela escuta você...
-ehehehe...vou tentar então..
-Caminhante! – me chama a atenção Luana...de Luciene L’uz.
-Oi Luana, como vai?
-Sempre bem e sorrindo, queria falar com minha irmã... não tivemos tempo para conversar muitas coisas de vida, e sei que a vida pra ela é complicada , se dividindo entre estudos, namorado, ar, família... eu gostaria de estar mais perto pra poder conversar com ela... na verdade eu queria dizer pra ela não ter pressa de viver as coisas, mas viver com calma, porque o que aconteceu comigo não vai acontecer com ela, então ela pode viver tudo sem pressa.
-Pois é Luana,mas eu acho que ela vai aprender isto sim.
-Com certeza, Caminhante.
-Caminhante... – Romeuzinho de ZEZE, me chama, e para a minha frente com as mãos pra trás... e pergunta:
-Minha mãe me vê como em suas saudades, como criança ou como adulto?
-Nossa que saia justa, hein romeuzinho, você quer me derrubar né?
-Como ela me vê caminhante?
-Ela o vê como você é... como você se vê?
-Ora caminhante, eu sei que ela me sente muito mais do que me vê, pois ela me vê com outros olhos, mas é que eu tinha curiosidade.. – Romeuzinho fala enquanto dá uma gargalhada gostosa....
-Eu precisava de falar com minha mãe e meu pai, e minha irmã... mas esta difícil deles se entenderem então as coisas ficam complicadas pra mim, porque acho que eles já me esqueceram, e meu pai e minha mãe não estão vivendo bem, então isto me amedronta, porque a separação deles esta próxima de acontecer apenas por intolerância mutua.... Desculpe caminhante...
Brotam duas lagrimas de seus olhos e, Romeuzinho corre pela floresta, como se estivesse envergonhado de se expor daquela forma.
Silencio na floresta. É interessante como a montanha reage ao que acontece.
Tudo parece parado, sem movimento, ates os pensamentos parecem parar aguardando um próximo passo que deveria vir naturalmente de quem estivesse participando da conversa.
Caminhante! Não desista, das pessoas, nunca... porque muitas vezes elas apenas não querem se curvar diante da verdade absoluta, porque todas tem seus medos , seus traumas, seus deuses ... mas não desista delas nunca, porque é esta diferença existencial que lhes invadem a mente que dá ao ser humano a característica única de ser humano.
Somos deuses e deusas apenas pela capacidade de nos mostrar e de cuidar do que nos propusemos, mas diante de nossas diferenças de deuses é que existe a nossa igualdade. Na verdade, meu querido amigo não somos donos do Universo, apenas nascemos com ele...
Dizendo isto, Iemanjá, une as mãos como se fosse se postar em oração, da um sorriso e vira-se caminhando lentamente para dentro da gruta até desaparecer.
Hoje eu senti minha montanha silenciosa, mas viva, cheia de vida e produzindo vida.
Sou um felizardo por poder ouvir diretamente de Iemanjá algumas palavras de sabedoria que não invocam credibilidade porque são naturalmente sábias e, estou feliz por poder me sentir bem recebido nesta montanha. Ainda que muitos não a creiam verdadeira, eu a creio Real.
Criar mistérios não é tão importante para a vida como colorir os momentos sombrios da vida humana.
Léo s.bella
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