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As Asas do Condor


Durante muitos anos,o Condor se preparou para voar soberano pelos Ares, em todas as camadas; em todas as direções cobrindo longas distâncias, aproveitando para construir sua sabedoria...
Durante estas andanças, o mundo passou sob suas Asas e ele apenas observou, parecendo distante, porém utilizando-se de todos os seus sentidos apreciou cada detalhe em sua viagem .
Pela sabedoria,construída através dos tempos, tornou-se naturalmente conhecedor de todos os segredos...
Sob o que foi observado é que vamos falar...
Sejam muito bem vindos ..
O CONDOR....

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sábado, 7 de agosto de 2010

Um passo em direção à vida eterna - André Muiños Porto

Um passo em direção à vida eterna.
ANDRÉ MUIÑOS PORTO

Qualquer passo não é um passo qualquer ainda que o poder não seja buscado.
Porém o poder sempre se apresenta como necessário para que a vida continue. E, continuar a vida, significa continuar sempre a busca.
A busca, entretanto não será apenas parte ou mesmo uma missão. A busca faz parte da vida humana e, é tão importante quanto à existência do próprio espírito.
Caminho de um lado para o outro em minha montanha mágica enquanto procuro entender que a vida não faz parte de algum destino, mas os destinos é que fazem parte da vida.
E o frio que sinto agora e que invade minha alma tem mais haver com a incapacidade que sinto de não ter dito palavras que pudessem evitar o passamento de um filho de um amigo, nem o sofrimento de meu amigo.
Questionar a vida longe da existência de Deus é tão ineficaz como produzir água em pó e, precisar de água para produzir água. E A VIDA HUMANA tem momentos que produzem sensações e sentimentos destoantes da realidade que se está vivendo, pois está além do que se pode compreender. E, neste espaço onde a compreensão humana não existe, é o espaço onde a excelência e presença da essência de Deus vive.
Além da morte, somente Deus.
Este território inexpugnável não é apenas a próxima morada, mas o lugar onde o ser humano terá a capacidade de poder resgatar-se diante da perfeição.
Porém tanto aqui como lá, a presença de Deus é imperceptível, pois quem vive é o homem e seu espírito. Deus não precisa viver, nem caminhar pelos cantos, pois em sua onipotência ele significa tudo o que pode existir, e pode estar presente em todos os momentos da vida.
Crer em Deus, entretanto, é outra estória. Para que a fé exista é preciso que algo fora do controle do ser humano exista e invada a sua vida, como por exemplo uma doença terminal, ou uma morte repentina, ou algo que tenha existência independente da compreensão humana.
Caminho, entretanto pela trilha subindo a montanha sem me preocupar com o que possa aparecer diante de mim, nesta caminhada que enseja uma busca. Uma busca para entender e suportar o passamento de André Muiños Porto. Seria muito interessante se eu pudesse me confrontar cara a cara com Deus, apenas para questionar porque a vida é surpreendente a cada dia que vivemos.
E, porque, em algum momento o destino parece impiedoso e cruel diante de pessoas que aparentemente não merecem o castigo que lhes é imposto.
Sob esta forma de ver as coisas, como sendo coisas de Deus, creio que pertence a ele a maldade também, porque para que a bondade possa viver e ser expressa diante da vida é preciso de seu contraponto, a maldade.
Meus passos me levam ao alto de minha montanha mágica onde a plenitude da percepção e compreensão humana se dá. E, aqui tudo é diferente e posso tudo, ainda que para muitos, isto seja uma utopia, ou uma quimera produzida pelos eflúvios de meus pensamentos.
Mas não são pensamentos, apenas é a realidade que se expressa com toda a força da natureza e mostra diante de meus olhos o que a incapacidade humana não permite ao homem ver e viver, longe de seus sentimentos e sensações.
Cada passo que dei até aqui, foi mais que um caminhar solitário dentro do aprendizado natural. Cada passo dado, foi a expressão do meu comprometimento com a vida e com os meus ideais. Talvez por isto, neste momento eu me sinta muito a vontade para gritar aos Céus, como todos as Mães e Pais gostariam de gritar diante de Deus.
Por quê? Por quê?????????
São quase 17h00 desta segunda-feira fria, e triste e, um nó na garganta insiste em não deixar de existir, por isto insisto em minha caminhada buscando encontrar palavras para traduzir o entendimento a quem precisar delas.
Muitas vezes na vida nos encontramos impotentes e diante de todas as fragilidades que compõe a espiritualidade humana, temos que buscar forças para continuar a viver. Todos vivemos pelo poder.
Muitas vezes, somente o poder é capaz de determinar o dia seguinte. E, o poder pode estar contido em uma infinidade de lugares, até nas palavras e na escrita.
Então eu busco, neste momento ainda que nas palavras ou na minha escrita uma força, que gere o poder de promover o conhecimento, ou mesmo a compreensão do que significa este momento.
Minhas palavras e minha escrita tem força, sei disto, porém, são apenas impotentes de traduzir neste momento a idéia de que a vida continuará para quem partiu e para quem ficou resta carregar a bagagem sem ter a consciência, mas a sensação de que tudo dará certo, um dia.
Olho para todos os lados, aqui do alto da montanha e em todas as direções o que vejo é o capim bailando ao sabor da brisa que sopra, fria é verdade, mas a única companheira que tenho neste momento.
Os pássaros não cantam e o silêncio é sepulcral. Um silêncio profundo: o que me leva a tocar em meus ouvidos como se eles estivessem entupidos.

Há alguns dias atrás tudo isto seria uma ilusão diante da presença física de André. Porém, agora é a mais pura expressão da realidade. Uma realidade dura que fere à todo instante todos os meus sentidos.
Imaginar como está se sentindo Walter (pai) e Neisa (Mãe), não é tarefa difícil, pois, ainda que distante a notícia da morte mexeu com minhas estrutura, imagine quem acompanhou desde o nascimento até o momento derradeiro de sua morte.
-Morrer nos braços de quem o acompanhou desde o nascimento, Caminhante, é um privilégio. Não é um castigo que foi imposto ao Pai. Não é o destino cruel mostrando sua cara. Não é uma forma de punir quem somente amou o filho em todos os momentos da vida. Não é uma forma de maltratar, Pai e Mãe, ou fazer-lhes entender que o dono de toda a vida é Deus.
Aliás, meu caro caminhante, Deus não age desta forma, porque além de tudo o que se possa saber a respeito dele, sua presença é mais importante diante da não interferência e sua capacidade Onipotente , onipresente e onisciente.
Diane de mim está uma mulher esguia, magra, alta, de pele castigada pelo Sol, cabelos cobertos por um tipo de lenço transparente, silueta esguia, um sorriso fácil e uma simpatia natural como se a paz reinasse a partir de seu olhar.
É Maria... apenas Maria. Muitas vezes nesta montanha , em minhas caminhadas eu me deparei com Maria, mas a cada novo encontro eu a vejo mais nitidamente, mais intensa e, muito mais humana do que eu posso imaginar.
Sempre me pergunto sobre o que deve haver entre o Céu e a Terra e, sem respostas, ou muitas respostas eu desisto de tentar entender. Sinto muito cansaço e sonolência quando tento entender certas coisas e, talvez esta sensação de que tenha sido um mero sonho, sempre me invade.
Mas agora é verdade, não é sonho, a minha frente está Maria. ..
Tento responder mas não sou capaz de articular alguma palavra. Parece que estou encantado diante daquela imagem de mulher, mistificada pela santidade de ser Mãe de Jesus Cristo’.
Devo dizer que minha vida, nunca foi pautada sobre os ensinamentos bíblicos, e que tampouco sou conhecedor de caminhos doutrinários de alguma seita ou religião que me dêem conhecimento suficiente para atribuir verossimilhança ao que estou vivendo e a vida que Maria viveu.
Não sei dizer se ele, Jesus, foi uma figura de linguagem mística, ou mesmo se existiu como homem ou como profeta o que sei é que sempre que a morte irrompe levando mais alguém para a eternidade, sempre o único caminho que se busca é o trilhado pela imagem do filho de Maria.
Se, Jesus, santo foi, não sei dizer, sei apenas que a ele foi atribuído o nome de filho de Deus, então, a todos os homens, nascidos nesta terra é atribuído o nome de seu irmão.
Maria dá alguns passos, passa por mim enquanto caminha pelo capim parece ser sustentada pela sua própria santidade. Enquanto passa por mim passa suas mãos sobre minha cabeça e me sinto infimamente pequeno diante daquele gesto, até porque sei que aquele gesto não é exclusivo para mim mas é para ser entregue a Walter Porto e Neisa Muiños, pais de André Muiños Porto.
Maria segue a frente e eu a sigo sem saber porque ou para que.
Talvez porque neste momento ela tenha alguma noticia ou algumas palavras para poder dizer a meu amigo.
Foi uma caminhada longa e em nenhum momento ela olhou para trás, nem ao menos para saber se eu a estava seguindo.
Chegamos perto da mata e ela repentinamente desapareceu diante de uma clareira que se formava. Em frente da clareira, uma pequena fonte e uma abertura na pedra, como se fosse uma gruta.
Apesar de estar frio, colho com as minhas mãos um pouco da água da fonte e a bebo, como se naquele momento estivesse saboreando a seiva mais preciosa da Terra.
Olho para a gruta e ouço o grito de alguém. O grito não é de medo, horror, ou terror, é um grito de liberdade...é um grito que contém em seu bojo a essência da liberdade.
Quem aparece, então na entrada da gruta, vestido e fantasiado com folhas é André e, quando me vê corre em minha direção gritando, gargalhando e saltitando demonstrando felicidade.
Então, ao sentir o abraço de quem partiu em direção ao outro lado da vida, eu não sinto meu corpo; parece que deixo de existir como matéria e agora sou apenas sensações, pura energia e posso gravitar sem sentir o peso do corpo eu me dá sustentação à esta vida .
É uma sensação indescritível onde a superioridade humana deixa de existir para que o Ser seja sustentado pela energia do universo. A Leveza do Ser me fascina, agora, porque posso senti-la como parte integrante da vida e não apenas como um atributo espiritual.
Muitas vezes pude abraçar anjos, deuses e deusas, mas agora, a oportunidade de encontrar um amigo cujo passamento havia sido há apenas algumas horas é um presente fantástico e indescritível.
Eu ainda não consegui falar com Walter e Neisa, até porque este final de semana, estava fora da cidade, em viagem.
Mas, minha caminhada pela montanha, hoje, tinha como objetivo obter noticia de André então eu não esperava nunca me encontrar com ele e, menos ainda receber aquele abraço.
Não sei se diante de tanta emoção vou poder descrever ou mesmo escrever nossa conversa. Foi uma conversa silenciosa porque nos falamos sem palavras, apenas com sensações , mas foi uma conversa produtiva e fecunda, pois certamente originará, pelo seu conteúdo, um momento único onde o que mais importa não são as coisas deste mundo, mas os sentimentos e as sensações que acompanham o homem em sua caminhada pelo Universo.
Eu creio, ser a Alma humana, eterna e indivisível, porém contendo em seu bojo todos os atributos do Universo, como também entendo que viver não é um ato isolado no universo, pois a vida não se dá por acaso.
A vida não é um acaso em direção à eternidade Universal.
A Vida, em todos os sistemas e em todas as suas varias formas são vitais para que todos os sistemas continuem transformando através da energia, pois tudo é energia e tudo é necessário.
Um longo abraço... um abraço silencioso, mas cheio de palavras, porque as almas se comunicam pelas sensações que podem viver. Elas simplesmente existem pela própria existência de suas energias. E, desta forma, fica fácil entender que André não partiu em direção à morada eterna, pois ele agora é universal e vive em todos os cantos, tal e qual o Universo em sua forma energética.
Não sei se é importante descrever que forma de vida é esta, mas, é importante poder acreditar e viver e reviver todos os momentos que ele pode estar entre nós.
Relembrar cada gesto, cada palavra, cada atitude, cada dúvida, cada momento é poder eternizar o Bem que todos deveriam poder sentir.
André não veio para dividir, nem para fazer a diferença através do sucesso materializado em grandes obras. Ele veio para ser amado, compreendido, amparado, pois era como o Sal, devia ser consumido em pitadas, pois em cada uma delas existia um conteúdo forte, capaz de fazer a diferença.
Pude conviver alguns momentos com ele, e nestes momentos aprender como a simplicidade pode ser tão complexa a ponto de nos fazer refletir.
Há algum tempo atrás escrevi um texto, em resposta a um texto que recebi dele e, o texto no inicio começa mais ou menos assim: “Talvez tivéssemos assunto para muitos dias a respeito do que você sente e acha sobre a vida , mas pouco tempo nos resta para aprender, para ouvir, pois a vida passa numa velocidade muito grande e muitas vezes somos abatidos e somos impedidos porque o relógio é mais imperioso do que nossa vontade...”
Naquele momento de alguma forma eu sabia que o carrasco seria o tempo. Exatamente o tempo... o mesmo e precioso tempo e impreciso tempo. O mesmo tempo que o tornava importante quando estava presente e necessário quando estava ausente.
A distancia que nos separava não era suficiente para me fazer ausente em sua vida, então imagino meu amigo Dr. Walter e Neisa, distantes de um Ser tão iluminado, tão denso e tão querido e amável, até quando tentava ser rude.
É difícil para um amigo de poucos momentos entender esta passagem, para o Pai e Mãe.
Muitas vezes eu ouvi, Walter dizendo “este menino é do caralho, ele é foda mesmo!!!” uma interjeição tão peculiar e que continha a admiração de um amigo, antes até de ser Pai. “Este menino é de um coração, uma generosidade indescritível, sou muito feliz de ser pai deste anjo” Sem ele não sei o que seria minha vida.
Mas a vida é cheia de momentos desconhecidos que a qualquer instante podem mudar o rumo de todas as coisas, reescrevendo assim a cada segundo um novo destino.
Um destino nunca pode ser traçado, mas trilhado e consumado apenas, portanto as varias formas de modificá-lo antes de ser estabelecido é parte do livre-arbítrio de cada ser. Porém, querer atribuir ao homem a capacidade de reescrever um destino depois dele ter sido consumado é talvez a maior das falácias, e, não passar de palavras perdidas e sem valor , ou seja, uma grande mentira.
O destino de cada ser é previsto, vivido e consumado, assim como presente passado e futuro, cada coisa no seu devido tempo. Três tempos intimamente ligados e interdependentes, mas que não podem ser alterados isoladamente. É impossível alterar o futuro, no futuro e, da mesma forma alterar o passado no passado, porém no presente tudo é possível, então não se pode querer desfazer ou culpar-se pela incapacidade de não ter evitado a morte de alguém, ainda que este alguém seja um filho e você seja um médico muito competente.
Nesta vida não existem tragédias que não sejam provocadas pelo homem e desta forma somente um homem pode ser capaz de provocar a destruição da humanidade. Mas ainda que exista esta possibilidade, de um único homem acabar com toda espécie de vida na terra é mais certo o vôo de uma borboleta ser o responsável pela ocorrência desta tragédia, porque em última analise
sempre luta para preservar uma vida, ainda que esta seja a sua.
Pensando sobre isto me distraí e, não consegui transformar aquele momento em que abracei André, num momento em que fosse possível modificar através do meu presente, o passado e o futuro e ter, novamente ,André, respirando ao meu lado.
Estou, agora, no Alto de minha montanha mágica, caminhando solitário pelo campo interminável de capim dourado que continua bailando ao sabor da brisa.
Todos os pássaros cantam, todos os sons são audíveis e todas as sensações eu posso sentir.
Devo descer e caminhar em direção à minha casa, retomar minhas tarefas e refletir sobre tudo o que acontece em todos os momentos de uma vida. Afinal é preciso viver intensamente cada segundo como se ele fosse o último pois somente assim se aprende a dar o valor verdadeiro à vida.
Olho para trás e vejo André me acenando , sempre sorrindo, tento espantar uma lagrima que rola pesada como se quisesse explodir em um grande estrondo ao tocar o chão.
Desvio o olhar, torno a mirar e aceno e não resisto aquele sorriso de menino arteiro e tão ingênuo que muito foi castigado pelas pessoas, mas que nunca castigou ninguém.
Meu caro Dr., minha querida amiga Neisa, não tenho palavras... não tenho as minhas palavras para externar o que sinto e poder levar a paz ao coração de vocês, porque sei que quem perde um filho, perde um pedaço de si.
Então me socorro de algumas palavras para tentar chegar próximo da Luz.
”Eu nunca poderia ter nascido e vivido em outra família. Esta é a família que eu aprendi a amar com todas as minhas verdades e a única família que seria capaz de me Amar verdadeiramente como eu sempre fui. Tenho muito a agradecer pelas tentativas de minha Mãe em querer que eu nunca perdesse o foco de minha vida e desta forma tivesse me tratado como um ser iluminado, muito mais que um filho. Ninguém jamais entenderá que nossas diferenças sempre se originaram em nossas igualdades. Quanto ao meu pai, muito mais do que meu herói, ele sempre foi o meu arcabouço e, a todo instante estava ao meu lado, ainda que fosse apenas para me ouvir e procurar me fazer entender que a vida era preciso ser vivida, sempre.
Meus irmãos, meus sobrinhos, tudo faz parte de minha vida e, com certeza, eu faço parte de todos eles.
Aos meus amigos, que tanto prezei, agora espero que eles entendam que eu não posso ir, com meu corpo, mas sempre estarei com eles, onde quer que seja.
André, Deco”.
01 de agosto de 2010, não foi um dia comum, mas um dia para ser lembrado, porque a partir deste dia o que seria possível ser tocado, abraçado e estar como companheiro , ao lado, torna-se em uma guia especial, tal como uma estrela para iluminar ainda que seja com um pequeno lume a vida de todos que o conheceram. Na escuridão, um pequeno lume é um magnífico farol.
Deus o proteja, André Muiños Porto.


Léo S Bella

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